quarta-feira, 19 de agosto de 2009

ZÉFIRO

Os Ventos

As alturas celestes, região etérea onde estão fixados os astros, gozam de uma paz eterna. Mas abaixo delas, bem abaixo, na região das nuvens e na vizinhança da terra, reinam as ruidosas tempestades, as tempestades e os ventos.
Os Ventos, divindades poéticas, são filhos do Céu e da Terra; diz Hesíodo que são filhos dos gigantes Tífeu, Astreu e Perseu; mas excetua os ventos favoráveis, a saber, Noto, Bóreas e Zéfiro, que dizem serem filhos dos deuses.
Homero e Virgílio estabelecem a morada dos Ventos nas ilhas Eólias, entre a Sicília, e a Itália. Como rei lhes dão Éolo, que os retém em profundas cavernas. Noite e dia, esses perigosos prisioneiros murmuram e rugem por trás das portas da prisão. Se seu rei não os contivesse, todos eles escapar-se-iam com violência, e no seu furor arrasariam ou dissipariam através do espaço, as terras e os mares, e mesmo a abóbada celeste.
Mas o onipotente Júpiter previu e preveniu tal desgraça. Não só os ventos estão encerrados em cavernas, como teve ainda o cuidado de colocar-lhes por cima enorme massa de montanhas e de rochedos. Do alto dessas montanhas, Éolo reina sobre os seus terríveis súditos. Todavia, apesar de ser deus, está subordinado ao grande Júpiter; não tem o direito de desencadear os Ventos ou de faze-los regressar ao seu antro, senão com a ordem ou o consentimento do seu soberano senhor. Se lhe acontece esquivar-se à obediência, disso resultam graves desordens ou deploráveis desastres.
Na Odisséia, ele comete a imprudência de encerrar uma parte dos Ventos em barris que manda a Ulisses; ao abri-lo se desencadeia uma tempestade sob os companheiros do herói, e os navios submergem.
Na Eneida, Éolo, para agradar Juno, entreabre com um golpe de lança o flanco da montanha sobre a qual repousa o seu trono. Assim que descobrem essa saída, os ventos se escapam e agitam o mar. Mas Éolo não tem tempo de se aplaudir: Netuno, que desdenha de castigar os Ventos, reenvia-os ao seu senhor, em termos cheios de desprezo, e os encarrega a eles próprios de lembrar a Eolo a sua insubordinação.
A fim de desarmar ou de conciliar os ventos, essas terríveis potências do ar, faziam-lhes promessas e ofereciam sacrifícios. Em Atenas ergueram m templo octogonal, tendo em cada ângulo a figura de um dos Ventos, correspondendo a ponto do Céu em que se sopra. Esses oito ventos eram: o Solano, o Euro, o Austro, o Áfrico, o Zéfiro, o Coro, o Setentrião e o Aquilão. Sobre o cimo piramidal desse templo estava um tritão de bronze móvel, cujo ponteiro indicava sempre o vento que soprava. Os romanos reconheciam quatro ventos principais, a saber: O Euro, o Bóreas, o Noto ou Austro e os Zéfiros. Os outros eram Euronoto, Vulturno, Subsolano, Coecias, Coro, Áfrico, Libonoto, etc. Em geral os poetas antigos e modernos, representam os ventos como gênios turbulentos, inquietos e volúveis; entretanto, os quatro ventos principais têm as suas fábulas diferente e um caráter particular.

Euro é filho predileto da Aurora; vem do Oriente; e monta com orgulho os cavalos maternos. Horácio o descreve como um vento impetuoso, e Valérius Flacus como um deus desgrenhado e desordenado, em conseqüência das tempestades que excita. Os modernos lhe dão uma fisionomia mais calma e mais doce. Representam-no sob os traços de um jovem alado, que com as mãos vai semeando flores por onde passa. Por trás dele esta um sol levante, e a sua tez é bronzeada como a de um asiático.

Bóreas, vento do norte, reside na Trácia, e lhe atribuem algumas vezes a realeza do ar. Ele raptou a bela Clóris, filha de Arcturo, e transportou-a para o Monte Nifate ou Cáucaso. Dela teve um filho, Hipace. Mas apaixonou-se principalmente por Orítia, filha de Ereteu, rei de Atenas; não podendo a obter de seu pai, cobriu-se com uma espessa nuvem, e arrebatou a princesa entre um turbilhão de poeira. Metamorfoseado em cavalo, gerou doze potros, de uma tal velocidade, que corriam nos campos de trigo sem fazer curvar as espigas, e sobre as ondas sem nelas molhar os pés. Tinha um templo em Atenas, sobre a margem do Ilisso, e cada ano, os atenienses celebravam festas em honra sua, as Boreasmas.

O Aquilão, vento frio e violento, é algumas vezes confundido com o Boreas. Representam-no sob a figura de um velho, com cabelos brancos e em desordem.

Noto, ou Austro, é o vento quente e tempestuoso que sopra do sul. Ovídio descreve-o como possuindo uma grande altura, velho, com os cabelos brancos, um ar sombrio, nuvens ao redor da cabeça, enquanto que a água goteja de todas as partes de suas vestes. Juvenal o representa sentado na caverna de Éolo, secando as asas depois da tempestade. Os modernos o personificam sob os traços de um homem alado, robusto e inteiramente nu. Caminha nas nuvens, sopra com as faces intumescida, para designar a sua violência, e tem na mão um regador, para anunciar que geralmente traz a chuva.

Zéfiro é, na verdade, o vento do Ocidente. Foi celebrado pelos poetas gregos e latinos, porque levava a frescura aos climas quentes onde eles habitavam. Dada esta explicação, Zéfiro tal como os poetas o personificam, é uma das mais risonhas alegorias da fábula. O seu sopro, ao mesmo tempo doce e poderoso, da vida à natureza. Os gregos davam-lhe Clóris como mulher, e os latinos, a deusa Flora. Os poetas o apresentam sob a forma de um jovem, cuja fisionomia é suave e serena, dão-lhe asas de borboleta e uma coroa composta de todas as espécies de flores. Era representado deslizando através do espaço, com uma graça, uma ligeireza aérea e tendo na mão uma cesta cheia das mais belas flores da primavera.