domingo, 18 de outubro de 2009

Pan, Júpiter, Ceres,Diana



O deus Pã, assim chamado, diz-se, da palavra grega pã, que quer dizer tudo, era filho, segundo uns, de Júpiter e da Ninfa Timbris; segundo outros, de Mercúrio e da Ninfa Penélope. Dizem outras tradições que era filho de Júpiter e da ninfa Calisto, ou talvez do Ar e de uma nereida, ou finalmente, do Céu e da Terra. Todas esses diversas origens tem uma explicação, não só no grande numero de deuses com esse nome, mas ainda nas múltiplas atribuições que a crença popular emprestava a essa divindade. O seu nome parecia indicar a extensão do poder, e a seita dos filósofos estóicos identificava Pã com o Universo, ou ao menos com a natureza inteligente, fecunda e criadora.
Mas a opinião comum não se elevava a uma concepção tão geral e filosófica. Para os povos, o deus Pã tinha um caráter e uma missão sobre tudo agreste. Se, em tempos mais remotos havia ele acompanhado os deuses ao Egito na sua expedição das Índias, se tinha ele inventado a ordem de batalha e a divisão das tropas em ala direita e em ala esquerda, o que os gregos e os latinos chamavam os cornos de um exercito, se era por essa razão que o representavam com chifres, símbolo da sua força e da sua invenção, a imaginação popular, tendo logo restringido e limitado as suas funções, o havia colocado nos campos, entre os pastores e os rebanhos.
Era principalmente venerado na Arcádia, região de montanhas, onde proferia oráculos. Em sacrifico, ofereciam-lhe mel e leite de cabra. Celebravam-se, em sua honra, as Lupercais, festas que depois se espalharam na Itália, para onde o árcade Evandro levou o culto de Pã. Representam-no ordinariamente muito feio, com os cabelos e a barba descuidados, com chifres, corpo de bode da cintura para baixo, enfim, pouco diferente de um fauno ou de um sátiro. Muitas vezes, empunha um cajado e uma flauta de sete tubos que se chama flauta de Pã, porque se diz que foi ele o inventor, graças à metamorfose da ninfa Sirinx em juncos do Ládon.
Viam-no também como o deus dos caçadores; quando ia à caça, mais do que animais ferozes era o terror das ninfas a quem perseguia com os seus ardores amorosos. Está sempre de emboscada atrás dos rochedos e das moitas; para ele o campo não tem mistérios. Foi por isso que descobriu e revelou a Júpiter o esconderijo de Ceres, depois do rapto de Prosérpina (Perséfone).
Pã foi muitas vezes confundido na literatura latina com Fauno e Silvano. Muitos autores os consideravam como uma só divindade com diferentes nomes. As Lupercais eram mesmo celebradas em tríplice honra desses gênios. Entretanto, Pã é o único de quem se fez alegoria e que foi considerado como um símbolo da Natureza, conforme a significação do seu nome. Os chifres representam os raios do Sol; a vivacidade de sua tez exprime o fulgor do céu; a pele de cabra estrelada que usa sobre o estomago representa as estrelas do firmamento; enfim, os seus pés e as suas pernas, eriçados de pêlos, designam a parte inferior do mundo, a terra, as árvores e as plantas. Seus amores suscitaram-lhe rivais, às vezes perigosos. Um deles, Bóreas, quis arrebatar violentamente a ninfa Pítis, que a Terra, condoída, metamorfoseou-se em pinheiro. Eis a razão por que essa árvore, conservando ainda, dizem, os sentimentos da ninfa, coroa Pâ com a sua folhagem, enquanto o sopro do Bóreas excita os seus gemidos. Pâ também foi amado por Silene, isto é, a Lua, ou Diana, que para ir visitá-lo nos vales e nas grutas das montanhas, esquece o belo e terno dorminhoco Endímion.