sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

A Roda IV


A roda é a imagem da ciência cristã unida à santidade. Ela é o emblema da erudita egípcia, Santa Catarina, a padroeira lendária dos filósofos cristãos. Na roda de fogo céltica, a rotação é feita alternativamente nos dois sentidos. Encontramos aqui o simbolismo da dupla espiral. A roda é um símbolo muito freqüente nas representações célticas. Nas esculturas galo-romanas, é com mais freqüência figurada em companhia de Júpiter céltico, comumente chamado deus da roda ou Táranis, ou ainda do cavaleiro com o gigante Anguípede.



Esta representação fez com que a maioria dos pesquisadores modernos vissem na roda o equivalente do fulmen de Jupiter , em outras palavras, um símbolo solar. Mas o simbolismo solar não basta para explicar totalmente a roda, que é também e sobretudo uma representação do mundo.


A roda é também o símbolo da mudança e do retorno das formas da existência, bem como a sucessão do dia e da noite. Por ser semelhante ao circulo, a roda é igualmente um símbolo celeste, em relação com a noção de centro. A rodela é também uma figura geométrica extremamente freqüente nas representações célticas de todas as épocas, e seu simbolismo conjuga o da roda com o da cruz. Um outro simbolismo, muito próximo da roda, é o de espiral que, com seus movimentos alternativos de evolução e involução, corresponde ao solve et coagula.


A Roda III


De modo ainda muito mais claro, a roda se revela como um símbolo do mundo; o cubo constitui o centro imóvel, o principio, e a camba, a manifestação que emana dele por um efeito de irradiação. Os raios indicam a relação da circunferência com o centro. A roda mais simples tem quatro raios: é a expansão segundo as quatro direções do espaço, mas também o ritmo quaternário da Lua e das estações. A roda de seis raios reconduz ao simbolismo solar; evoca igualmente o monograma de Cristo e pode ser considerada como a projeção horizontal da cruz de seis braços. A roda mais freqüente tem sempre oito raios: são as oito direções do espaço evocadas pelas oito pétalas do lótus, com o qual a roda se identifica. As oito pétalas ou oito raios simbolizam também a regeneração, a renovação. Esta roda é encontrada do mundo céltico até a Índia, passando pela Caldéia. É ainda a disposição dos oito trigramas chineses. Se a roda da existência budista tem seis raios, é apenas porque existem seis classes de seres, seis LOKA; se a roda do Dharma tem oito raios, é porque o Caminho comporta oito veredas.


A significação cósmica da roda está expressa nos textos védicos. Sua rotação permanente é renovação. Dela nasceram o espaço e todas as divisões do tempo. Só o centro da roda cósmica é imóvel: é o vazio do cubo que a faz girar, o umbigo. Nesse centro se mantém o Chakravarti, aquele que faz girar a roda. É o Buda, o Homem universal, o Soberano. Os antigos reis de Java e de Angkor eram expressamente qualificados como Chakravarti. Este cubo vazio é o ponto de aplicação da atividade celeste. O monarca em que ai permanece é, na transformação universal, o único a não ser transformado, diz Tchuang-tse. Outro aspecto do simbolismo chinês: o cubo é o Céu, enquanto que a circunferência constitui a Terra, e o raio, o homem, mediador entre eles. A roda da noria dos chineses, ou a roda do oleiro de Tchuang-tse, ou o ciclo da criação da Epístula de São Tiago exprimem igualmente o redemoinho incessante da manifestação, e a libertação desse movimento só pode ser obtida pela passagem da circunferência ao centro, o que se entende como retorno ao centro do ser.
A roda que o Buda coloca em movimento é a Roda da Lei, o Dharmachakra. Essa lei é a do destino humano. Por isso não existe nenhum poder que seja capaz de inverter o sentido de rotação da roda. Guénon a relaciona muito judiciosamente à Roda da Fortuna ocidental. A Índia e o budismo usam ainda outros símbolos: o sábio que atinge a Libertação é, diz o Samkhya, um oleiro que terminou seu pote; mas ele continua a viver, assim como a roda continua a girar pela velocidade adquirida. A duração da vida nos ensina o Visuddhimagga, é a de um pensamento: assim como a roda que só toca o solo num único ponto. É preciso não esquecer a Roda da Existência do budismo tibetano que, fundada mais uma vez sobre a noção das mutações incessantes, representa a sucessão dos estados múltiplos do ser.


O nome meramente convencional de Roda da Lei, e também os de roda do moinho ou de noria, são dados, na alquimia interna dos taoistas, ao movimento regressivo da essência e do sopro, que deve fazer com que estes se unam no cadinho: é, expresso de forma emblemática, um retorno da periferia, da circunferência, ao centro.

A Roda II




quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

A Roda I


O círculo sugere a roda, mas com certa valência de imperfeição, porque ela se refere ao mundo do vir a ser, da criação continua, portanto da contingência e do perecível. Simboliza os ciclos, os reinícios, as renovações. O mundo é como uma roda, como uma esfera numa esfera, segundo o pensamento de Nicolau de Cusa.
Com a asa, a roda é um símbolo privilegiado do deslocamento, da libertação das condições de lugar e do estado espiritual que lhes é correlativo.
É um símbolo solar na maior parte das tradições: rodas abrasadas descendo das alturas do Solstício de verão, procissões luminosas se desenrolando sobre as montanhas no Solstício de inverno, rodas transportadas em cima de carros por ocasião das festas, rodas esculpidas sobre as portas, roda da existência etc. Numerosas crenças, fórmulas e práticas associam a roda à estrutura dos mitos solares.

Na índia, os Sete atrelam o carro numa roda única: um único corcel de nome sétuplo move a roda de cubo triplo, a roda imortal que nada faz parar, sobre a qual repousam todos os seres. Para os celtas e os indianos é símbolo cósmico e solar. Mag Ruith é o mago das rodas, Magnus rotarum; é com a ajuda de rodas que ele pronuncia seus augúrios druidicos. Ele é também senhor, mestre das rodas, neto do rei universal. É o equivalente do chakravarti, o que move a roda. Na China, o detentor da roda tem em seu poder o império celeste.
Mas como explicar esta Constancia do símbolo na maioria das culturas?
O simbolismo muito difundido da roda advém, ao mesmo tempo, de sua estrutura radial e de seu movimento.

Os raios da rocha fazem com que ele apareça como um símbolo solar. È ligada a Apolo, bem como ao raio e à produção do fogo. O chakra é um atributo de Vishnu, que é um aditya, um sol. Entretanto, esse chakra é mais propriamente um disco que uma roda. Nos textos e na iconografia da Índia, a roda tem freqüentemente doze raios, numero zodiacal e número do ciclo solar. As rodas de carro são um elemento essencial na representação do Sol, da Lua, dos planetas. Trata-se ainda, sobretudo, de evocar a viagem dos astros, seu movimento cíclico. Os trinta raios tradicionais da roda chinesa são o signo, pelo que diz respeito a eles, de um ciclo lunar.